“Acima de tudo, não perca sua vontade de prosseguir.” — Soren Kierkegaard
Durante o processo de des-envolvimento espiritual, é inevitável que, em determinados momentos, o busca-dor se auto-perceba em uma condição mental interna de angústia, de inquietude, de conflitos e até mesmo de desilusões seguidos por uma revolta que passa a atormentá-lo por um certo período. A essa condição cíclica, momentânea e que sempre acomete o indivíduo que busca-a-dor, podemos dar o nome de A noite escura do ego[1], mas podemos também simplesmente dizer que se trata de um desespero do ego, que é uma consequência natural do ato da pessoa mergulhar internamente em si mesma, do examinar e questionar sobre tudo aquilo que ela acreditava ser a “verdade absoluta”, e por tanto perceber que, a rigor, nada disso tem sentido algum, de que Tudo É Mental.
"Não há
despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos
limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se
torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar
consciente a escuridão." |
É por isso que tal busca não se trata de uma ocupação tão fácil assim de realizar, aliás, é a ocupação mais perigosa que há, pois, ao
empreender um certo esforço nela, a pessoa estará gradualmente desmoronando todo o seu mundo
pessoal, isto é, tudo aquilo em que ela se apoia ou acredita ser Real. E isso é extremamente violentador (ao ego) e pode facilmente assustar
aqueles que imaginavam que a jornada espiritual seria como um passeio no
parque, que tudo seria “leve”, “calmo” e “divertido”. Mesmo para
aqueles que já passaram por tudo isso, o sorriso (de nervoso) ainda é
evidente, pois, sabem que, enquanto houver medos, dúvidas e apegos a
serem des-envolvidos e/ou des-construídos, eventos como esses serão inevitáveis e inesperados.
O busca-dor por tanto tem a escolha de prosseguir se libertando cada vez mais das amarras que ele mesmo creou, ou, para se poupar dessa dor, ele pode simplesmente recuar em
direção a àquela mesma condição existencial de sempre, no conforto de suas
próprias ilusões, seja ela no âmbito da vida religiosa comum, das atividades sociais e familiares consideradas normais, dos planejamentos de vida, sobretudo aquelas que envolvem as mais diversas fantasias afetivas ou amorosas, dos inúmeros "caminhos certos" a seguir para uma vida "feliz", "próspera", "despreocupada" e por aí vai.
Ao não querer questionar tudo
isso(entre outras coisas a mais), ao ter medo de entrar nessa noite escura do ego, resta somente a pessoa seguir a vida guiado inconscientemente pelas próprias fantasias, pelos ideais, pelo outro, tendo assim, o seu destino governado cada vez mais distante do próprio Ser (Consciência).
[1] O místico João da Cruz chamou este evento de “A noite escura da alma”.
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